quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Meditação sobre os poderes .


Meditação Sobre os Poderes

Rubricavam os decretos, as folhas tristes
sobre a mesa dos seus poderes efémeros.
Queriam ser reis, czares, tantas coisas,
e rodeavam-se de pequenos corvos,
palradores e reverentes, dos que repetem:
és grande, ninguém te iguala, ninguém.
Repartiam entre si os tesouros e as dádivas,
murmurando forjadas confidências,
não amando ninguém, nada respeitando.
Encantavam-se com o eco liquefeito
das suas vozes comandando, decretando.
Banqueteavam-se com a pequenez
de tudo quanto julgavam ser grande,
com os quadros, com o fulgor novo-rico
das vénias e dos protocolos. Vinha a morte
e mostrava-lhes como tudo é fugaz
quando, humanamente, se está de passagem,
corpo em trânsito para lado nenhum.
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria
dos seus títulos afundados na terra lamacenta.

José Jorge Letria, in "Quem com Ferro Ama"

P.S. Acautelemo-nos eles e elas andam por aí ....

2 comentários:

MisteriosaLua disse...

Mas onde vais tu buscar estas pérolas? Fantastique! Que classe!

Maria disse...

Ando a "treinar" para lhes ir às fuças, já te disse.
Este ano temos 3 hipóteses legais (eleições) de o fazer...

hehehehehehehe