segunda-feira, 31 de maio de 2010



A linha do horizonte faz uma curva perigosa e está fora de mão.
A linha do horizonte, afinal, é um embuste linear e um veículo mal conduzido.
Quem lhe deu toda esta grandeza esqueceu-se de que lhe
estava a dar todo o poder. Ouviste, Deus?, é contigo.
Ou será que te enganaste e não percebeste que o horizonte
não é para ver de cima? Já não é a primeira vez que te apanho em falso.
Repara nos homens.
Nas guerras.
Na fome.
Nos incêndios e nas cheias.
Queres pior?
Repara na mentira.
Queres um resumo? Repara em ti.
Já sei, já sei. Para estes casos tu não és nenhuma entidade
superior, tu és dentro de cada um de nós.
Mas a multa do horizonte fora de mão, pagas tu.


Fernando Tordo

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Hoje ofereço-nos esta ... pela sua actualidade ... e claro desejo-nos um óptimo fim de semana !!!




Roupa velha
Letra e Música: Fausto

Rapariguinha
cose a tua saia
velha de cambraia
que outra não podes comprar baixa a bainha
rasga o pé-de-meia
quando é magra a ceia
quem nos há-de aguentar
oh bonitinha

A que preço está o peixe
na corrida
a xaputa já é truta
promovida
puxa da massa apalpa a fruta
insecticida
fez a pileca da vitela
uma investida
e a salsicha “isidora”
é alheira de Mirandela

A que preço está a couve
e o grão-de-bico
bacalhau quase não há
deu-lhe o fanico
tenho prisão de ventre oh pá?
eu já te explico
o feijão-frade subiu ao céu
vende o penico
se não há grelos no mercado
há bons nabos no hemiciclo

Guarda a roupa velha
que sobra do almoço
dá o braço à Maria
ao Manel e ao Joaquim
não vás devagarinho
faz da praça um alvoroço
leva-me contigo
ai!! não te esqueças de mim
rapariguinha
cose a tua saia
velha de cambraia
que outra não podes comprar
baixa a bainha
rasga o pé-de-meia
quando é magra a ceia
quem nos há-de aguentar
oh bonitinha

A que preço está o vinho
nessa pipa
arde o preço da aguardente
queima a tripa
a água-pé é um detergente
só constipa
já não gosto da cerveja
dessa tipa
e a jeropiga a martelo
é servida em bandeja

A que preço está a casa
nessa esquina
não se aluga só se vende
é uma mina
quem a vende tem juros
lucros
alucina
quem não tem casa inventa
imagina
sonha ao relento é multado
mora em barraca clandestina

Guarda a roupa velha
que sobra do almoço
dá o braço à Maria
ao Manel e ao Joaquim
(…)

Como vai a nossa vida
de chinelo
pelo custo não é festa
é um duelo
o cabaz da fome é caro
magricela
mais barato é o discurso
tagarela
nada diz nada acrescenta
nem mexe o fundo à panela

quarta-feira, 26 de maio de 2010


O CESTO DE FRUTA


Havia um homem cujo estado mental tinha apodrecido…
Bem, pensar não é tudo, pensou, há a rotação
de polegares, que pode muito bem ter sido uma arte nobre
nalguma cultura da antiguidade. Há o estalar dos dedos, que
pode ter sido parte da música da antiguidade também.

Criar um círculo com um dedo apontado e o polegar
diz-nos coisas sobre o entusiasmo; a forma da terra.

Ainda assim, o seu estado mental tinha apodrecido como
uma coisa deixada demasiado tempo num cesto de fruta
feito de osso…

Russel Edson

Depois ofereceram-lhe/ofereceu-se um cesto de fruta... novo ... feito de esperança, de amor, de carinho e de amizade !!!!


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Rock in Rio Lisboa - 22/5/2010 - a minha opinião pessoal.

Tenho um bilhete para lhe oferecer qual o dia que prefere ?
Dia 22 sem sombra de dúvidas é o meu dia. E foi .



Tim e Mariza para inicio. Uma óptima prestação de ambos e uma grande empatia com o público por parte de Mariza. O encore com uma surpresa: a participação de Rui Veloso.

Rui Veloso ofereceu-nos um espectáculo um pouco decepcionante para quem ia para o ouvir. Tony Garrido e Boss Ac e um Rui Veloso que valeu pelos virtuosos solos de guitarra no início. Na 2ª. parte Maria Rita com a sua extraordinária voz e presença em palco, em muitos momentos lembrando-nos a grande Elis, quase nos fizeram perdoar a "preguiça" de Rui que decididamente escolheu dar lugar aos mais novos em detrimento de si próprio. Aqui mais uma vez Rui brilhou como o exímio guitarrista que é. Claro que Rui nos presenteou com algumas das suas canções, e essas foram como sempre acontece em todos os seus concertos, acompanhadas por um coro gigantesco, o de todo o publico que assistia.

Da prestação de João Pedro Pais pouco posso "opinar". Ouvi três ou quatro canções e pareceu-me igual a si próprio. Ressalvo a gratidão que faz questão em mostrar a todos os que admiram o seu trabalho.

Elton John decididamente não é a "minha praia", ouvi-o sentada/deitada na relva que o cansaço já se fazia sentir, e visualizei-o num dos muitos ecrãs gigantes que por lá proliferam. Cantou todos os seus maiores sucessos da maneira a que já nos habituou.

Finalmente para fecho de noite: Trovante. Um bom concerto com um Luís Represas nitidamente feliz por este reencontro. Os muitos, grandes e virtuosos músicos em palco tornaram a festa inesquecível. Claro que não poderia deixar de destacar a performance do nosso amigo José Salgueiro, e claro do grande João Gil.

Deixo-vos com um cheirinho de uma parte de um dos concertos :

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Seguindo em frente ... seguindo os astros ... SEMPRE !!!!!!!!!!!!!!



Sempre viveram no mesmo barco
Foram farinha do mesmo saco
Da mesma marinha, da mesma rainha
Sob a mesma bandeira
Tremulando no mastro
E assim foram seguindo os astros
Cortaram as amarras e os nós
Deixando pra trás o porto e o cais
Berrando até perder a voz
Em busca do imenso,
Do silêncio mais intenso
Que está depois dos temporais

E assim foram seguindo em frente
Fazendo amor pelos sete mares
Inchando a água de alga e peixe
Seguindo os ventos
As marés e as correntes
O caminho dos golfinhos
A trilha das baleias
E não havia arrecifes
Nem bancos de areia
Nem temores, nem mais dores
Não havia cansaço
Só havia, só havia azul e espaço

Composição: Ivan Lins / Vitor Martins

Bom fim de semana !!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Foi o Facebook que me desvendou as palavras de João Monge, mais precisamente através de alguém cujo trabalho admiro e que teve e gentileza de me aceitar como amiga: João Gil. Gosto das palavras de João Monge. São poemas simples, fluidos que dizem tanto e de um modo quase simplista. João Monge brinca com as palavras admiravelmente. Não o conheço pessoalmente, no entanto João Monge teve a amabilidade de me agradecer publicamente a partilha do seu trabalho com todos vocês que por aqui vão passando. Como já disse gosto dos poemas de João Monge, acrescento que me tocou a simpatia e o carinho que me demonstrou e claro que também a sua simplicidade e a sua modéstia. Todos nós sabemos que os poetas se desnudam e desvendam nos poemas que escrevem. Por tudo isto partilho mais um poema.

Não digas que não te avisei

Se a velha diz que vais quase nua
Não faças caso
Deixa-a falar
Se o pintas manda bocas na rua
Não ligues peva
Manda-o lixar

Se a vizinhança fizer escarcéu
E te ameaça
Mandar prender
Põe-te bonita de perna ao léu
Diz ‘ma chalaça
Fá-la sofrer

Deixa as etiquetas, dá corda aos sapatos, não temos as 7 vidas dos gatos
Deixa as etiquetas, dá corda aos sapatos, não temos as 7 vidas dos gatos

Se o cão de fila te quer filar
Manda-lhe um osso
Manda-o buscar
Se o mais reguila te convidar
Vai-lhe ao pescoço
Põe-te a ladrar

Depois, não digas que não te avisei!

Se as catatuas vão à igreja
Meter umas cunhas
Pra te salvar
É porque já estão verdes de inveja
Roendo as unhas
Pra não pecar

Depois, não digas que não te avisei!

Se a esperança um dia bater à porta
Faz-lhe um café
Manda-a sentar
Pois até os peixinhos da horta
Com muita fé
Conseguem nadar

Se vires que o caso está mal parado
Só armadilhas
Em contratempo
Agarra o braço ao teu namorado
E põe-te a milhas
Enquanto é tempo

Depois, não digas que eu te avisei!

João Monge

segunda-feira, 17 de maio de 2010


eu queria tanto escrever-te um poema domingueiro
verso engomado
rima vincada
estrofe acertada…
mas um tudo-nada rafeiro para sentires
que não era casual
assim, como direi? um pouquinho pires
um poema de ver-a-deus
desses que falam da lua
do mar
dos céus (esta rima é mesmo previsível)
das flores
dos cabelos ao vento…
olha, um poema para tu pores
na mesinha da cabeceira
mas não estou no meu momento
deve ser 2ª feira.

João Monge

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Contra ventos e marés continuo a acreditar no meu futuro, no nosso futuro, no futuro da nossa terra. À saúde de todos nós bora lá beber uma Mini ...



BOM FIM DE SEMANA !!!!

quinta-feira, 13 de maio de 2010


Se eu fosse deus
criava um deus que falhasse,
um tipo de óculos como eu
em quem eu acreditasse
sem ter de cruzar os dedos.
alguém que fosse reflexo
do que o meu peito espelhasse
na montra dos meus segredos

se eu fosse deus
duvidava mais de mim.
punha um panamá e uns calções
e vagueava no jardim
onde vagueiam multidões
escutava o que diziam
com tremoços e balões
o que o filho diz à mãe
o que a mãe lhe diz por fim…
e quando não se entendiam
duvidava mais de mim

se eu fosse deus
nunca teria criado o bicho da maçã
mantinha o pecado intacto
para contrastar o facto
com o raiar da manhã.

mas isto sou eu a pensar…

no que faria em seu lugar.

João Monge

terça-feira, 11 de maio de 2010

Estas palavras têm quase 500 anos, como gostaríamos que não estivessem tão actuais ... Enganou-se o poeta quando disse "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades ... " ?



Ditosa pátria, lusa encarnação,
Conduzida ao abismo dos valores
Será que ainda tens cura, remissão,
Ou sentes da agonia os estertores?!
O que há mais é piolhos-pensadores!
Sim, usando a cabeça, mas... de fora...
Louvaminhando abutres corruptores
Sanguessugas de ontem ... e de agora!
Ditosa pátria, pasto de cobiças,
De ambições sem freio, sem travão,
Vasto rol de ladrões matar-te-ão!
Ditosa pátria, palco de injustiças,
Terás mau fim, se olharmos às premissas,
Triste o destino, triste a conclusão.

Luís de Camões

segunda-feira, 10 de maio de 2010


Saí do comboio

Saí do comboio,
Disse adeus ao companheiro de viagem
Tínhamos estado dezoito horas juntos..
A conversa agradável
A fraternidade da viagem.
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.
Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...
Toda despedida é uma morte...
Sim toda despedida é uma morte.
Nós no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.
Tudo que é humano me comove porque sou homem.
Tudo me comove porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.
A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a não tratavam muito bem...
Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo.
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.
E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.


Álvaro de Campos

sábado, 8 de maio de 2010



" As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"

Antoine de Saint-Exupéry

Tu e eu temos, partilhamos e acreditamos nas mesmas estrelas.

Beijo grande minha amiga.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ás vezes sinto-me bem


Foto retirada daqui

Às vezes sinto-me bem…
Sinto-me filho legítimo da casa na falésia
e o herdeiro da janela
Sinto-me a parte impura do mar
ou seja, aquela que não serve para nada,
mas lhe dá significado

Às vezes sinto-me o velho
que ainda não sou e sinto-me bem
como se o sol me atravessasse
para se desfiar no gato que me dorme ao colo

Sou a extensão do gato

Às vezes sinto-me bem…
Sinto que tudo o que fiz de errado
acabou por bater certo
E é por isso que existem a casa, o mar, o sol, o gato..

Deve haver uma razão cósmica para tudo isto
no fundo da minha algibeira
juntamente com a lista do supermercado

Já não tenho idade para andar de bicicleta
Sem mãos

Poema de João Monge, retirado daqui

segunda-feira, 3 de maio de 2010




Oxálida

Havia marinheiros
No país de Helena
Que morriam ao pôr-do-sol

E havia Helena que sonhava
Fazer um dia tranças às ondas
E um berço muito grande para o mar

obra incluída em "Poesia"de Daniel Faria