quarta-feira, 16 de junho de 2010

O sobscrito


O sobscrito

Bateram ao postigo. Era o carteiro
Trazia um sobrescrito de Lisboa
Não era engano: O nome estava inteiro
Era dirigido à minha pessoa

Abri-o logo ali: Era a respeito
De um pedido que em tempos eu fiz
Para qualquer ofício ganho o jeito
Mesmo que seja só como aprendiz

Nessa tarde já não saí de casa
Sentei-me frente ao lume a matutar
Enquanto dava a volta a uma brasa
Há dias de perder e de ganhar

Meti a tralha toda para um cesto
E mesmo ainda assim sobrava fundo
O que ficou tinha muito mais texto
Não cabe em nenhum verso deste mundo

Foi toda a minha gente à despedida
Ao Largo donde partiu a carreira
Abraços, beijos e até comida
Cada um exprime-se à sua maneira

E foi assim que a vida deu uma volta
A carta e os conselhos de um braseiro
O campo por onde eu andava à solta
Agora está no fundo de um estaleiro

João Monge

P.S. Obrigada ...

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