segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Resposta a uma amiga ...

Por mais que nos esforcemos em não nos desvendarmos quando escrevemos, é-nos sempre uma tarefa impossível. Alturas há nas nossas vidas em que queremos partilhar com os outros os nossos pensamentos, as nossas alegrias, os nossos problemas, os nossos estados de alma. Em outros momentos, e por diversas razões preferimos fechar-nos, guardar para nós e para aqueles que quase (porque hoje em dia dentro de mim não existem mais certezas, mas apenas talvez sins) temos a certeza que se preocupam connosco.

Neste momento escrever neste meu blog deixou de ser gratificante para mim. Não me apetece desvendar-me. Possivelmente será uma fase passageira, poderá até ser definitiva, nenhum de nós tem a capacidade de prever o futuro. Voltarei quando me apetecer. Agradeço a todos os amigos que durante todo este tempo tiveram uma tão grande paciência para me ler. Até já, até sempre.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Afinal é possível fintar o tempo. Inventar uma semana que não tenha segunda feira, e ficar a ver chover...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Há dias em que acordamos com palavras ou sons específicos insistentemente martelando cá dentro. Há dias em que as palavras e os sons se misturam de tal maneira que escolher alguns de entre essa amálgama se torna tarefa muito difícil. Hoje foi bastante complicada para mim a escolha. Lá para Fevereiro, depois da saída de um disco que espero(amos) ansiosamente possivelmente não terei mais este tipo de problemas. Hoje depois de muita hesitação resolvi escolher esta música para nós :



Eu sei,
Tudo por acaso
Tudo por atraso
Mera distração
Eu sei
Por impaciência
Por obediência
Pura intuição
Qualquer dia, qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora, tudo é invenção
Ninguém vai saber de nada
E eu sei
Pelo sentimento,
Pelo envolvimento,
Pelo coração
Eu sei
Pela madrugada
Pela emboscada
Pela contramão
Qualquer dia, qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora, tudo é invenção
Ninguém vai saber de nada
E eu sei
Por qualquer poesia
Por qualquer magia
Por qualquer razão
Eu sei,
Tudo por acaso
Tudo por atraso
Mera diversão


Permito-me uma sugestão:
ARRASTEM OS MÓVEIS DA SALA, DEIXEM ENTRAR A MÚSICA E ... DANCEM !!!

Bom fim de semana !!!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Descartável ...

Por vezes acordamos com palavras, com sons, que por mais que tentemos sacudi-los de dentro de nós, teimosamente insistem em não nos abandonar. Hoje foi isso que me aconteceu, com esta palavra, que todos nós sabemos ser a que mais se adequa para descrever o principio fundamental que rege o Mundo em que vivemos:

DESCARTÁVEL





terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mário Viegas "Cantiga dos ais"


Tinha este post preparado para publicar hoje.

Porque se fosse vivo faria hoje 61 anos, porque foi indiscutivelmente um dos nossos maiores actores, porque morreu cedo demais, e porque é alguém que admiro, não posso deixar de lhe prestar esta homenagem.

António Mário Lopes Pereira Viegas (Santarém, 10 de Novembro de 1948 — Lisboa, 1 de Abril de 1996) foi um actor e encenador português.


Cantiga dos ais

Os ais de todos os dias
os ais de todas as noites
ais do fado e do folclore
o ai do ó ai ó linda

Os ais que vêm do peito
ai pobre dele coitado
que tão cedo se finou

Os ais que vêm da alma
ais d'amor e de comédia
ai pobre da rapariga
que se deixou enganar
ai a dor daquela mãe

Os ais que vêm do sexo
os ais do prazer na cama
os ais da pobre senhora
agarrada ao travesseiro
ai que saudades saudades
os ais tão cheios de luto
da viúva inconsolável

Ai pobre daquele velhinho
ai que saudades menina
ai a velhice é tão triste

Os ais do rico e do pobre
ai o espinho da rosa
os ais do António Nobre
ais do peito e da poesia
e os ais doutras coisas mais
ai a dor que tenho aqui
ai o gajo também é
ai a vida que tu levas
ai tu não faças asneiras
ai mulher és o demónio
ai que terrível tragédia
ai a culpa é do António

Ai os ais de tanta gente
ai que já é dia oito
ai o que vai ser de nós

E os ais dos liriquistas
a chorar compreensão

Ai que vontade de rir
E os ais do D. Dinis
ai Deus e u é

Triste de quem der um ai
sem achar eco em ninguém

Os ais da vida e da morte
ai os ais deste país


Mendes de Carvalho


Hoje foi assim





Oito horas por dia, 5 dias por semana, durante 20 ou 30 anos. Cada vez mais o desalento, o tão difícil cumprimento da obrigação. Porque fazem tanta questão em nos roubar o entusiasmo ? o que os leva a estupidamente nos aniquilar o interesse pelo que fazemos ? o que têm contra o nosso empenhamento, o nosso amor à camisola, o querermos sentir que aquilo que fazemos também é um projecto nosso ? só eles são seres humanos ? ou são seres humanos de 1ª e nós seres humanos de segunda, e como tal devemos vegetar, arrastar-nos pela vida. Hoje foi muito difícil conseguir obrigar-me a estar aqui. Mais difícil foi com certeza para ele obrigar-se a ficar lá ... hoje foi assim ...

domingo, 8 de novembro de 2009

Tejo Bar " Pena para quem perdeu"

Podia contar-vos do ambiente bonito, de quase nos parecer que andamos para traz no tempo, (apesar de a maioria das pessoas que por lá passam, ser gente muito jovem), do carinho com que cada um é recebido, do barman/fadista/ segurança Canholas, da figura singular que dá pelo nome de Poeta Vadio, do fado Opiparô, das gargalhadas que a Lua não conseguiu controlar, dos poemas escritos em papel já amarelecido pelo tempo e lidos por quem lhe apetecer, podia falar-vos de muitas mais coisas, mas sem lá ir é muito difícil imaginar...

Deixo-vos com este video, uma música original com poema de Fernando Pessoa.


P.S. Obrigada pela partilha Letícia e Zé, ficámos com uma vontade imensa de lá voltar ...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O que é bonito ?

Uma prenda para todos os que gostam de Lenine (para ti ..., para ti... , para ti... e para ti..., e ... também para ti ...).




O que é bonito
É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado
O que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça

O que é bonito...

E o desejo de um fim de semana BONITO para todos nós !!!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009



A Voz do Silêncio


A pessoa que sou é única, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira, é autêntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidão, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhão, não é 'isolamento'. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima não é puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silêncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que está certa entre os homens como em face do homem só. O isolamento corta com os homens: a solidão não corta com o homem. A voz da solidão difere da voz fácil da fraternidade fácil em ser mais profunda e em estar prevenida.

Vergílio Ferreira, in 'Espaço do Invisivel I'

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Hoje levantei-me e espreitei pela janela, a chuva caía com uma cadência perfeita. Que dia bom para ficar em casa, a ouvi-la, a vê-la, a preguiçar. O que me impeliu a não ficar ? Difícil entender o que me levou a não ficar .

terça-feira, 3 de novembro de 2009


As flores, as árvores, as plantas em geral adormecem o pulsar da sua seiva no inverno, é esse adormecimento do sentir, a sua defesa contra o frio e as condições climatéricas adversas.

Já se sente por aqui o frio. Vou procurar roupa mais quente e talvez acender a lareira.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009


Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação…

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

José Gomes Ferreira