segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ao ler este post fiquei a pensar em todas as pessoas de quem gosto. Com interesses tão diversificados, com maneiras de viver a vida tão diferentes. No entanto todas humanamente interessantes, todas com tanto para me ensinar ...

Estranho quem vive barricado na sua selva. E se recusa a visitar, nem que seja por um segundinho, a selva alheia. Fico varado - eu que gosto de mixar universos e personagens e de circular em territórios contrastantes - com os cidadãos que só se sentem bem ou na tascarola ou no grémio literário. Aqueles que se recusam a passear diletantemente pelas diversas esquinas da vidinha, das mais limpas às mais abodegadas, e que preferem ficar estacionados, como se costuma dizer, em lugar seguro. Sempre o mesmo, sempre o mesmo, seja este elitista ou achungalhado.

Os que não passam a fronteira das freguesias do seu preconceitozinho para visitar outros lugarejos, ambientes e perfumes. Os que se recusam a falar com os Fanãs porque só se dirigem a pessoas de dois apelidos. Ou o contrário: gente que se recusa a falar com quem usa pulloveres em bico e tem uma maneira afectada de falar porque isso era ceder ao mundo "deles", do "guito" e da "tradição".

Peço desculpa, como o outro, por estar a sublinhar o óbvio : isto, seja o que isto for, vale a pena, parece-me (a mim e à dona Lurdes), pelas possibilidades. Por, num dia, podermos estar a beber um bela de uma imperialeca num tasco irrespirável e noutro estarmos a arriscar uma bem recomendada vinhaça numa esplanada com vista sobre a cidade. Por podermos ir à cinemateca e ao mercado do DVD de Campolide. Por podermos ter um amigo rasta, que nos convoca para épicas festarolas junto ao Martim Moniz, e outro que nos leva a passear pelos jardins aristocráticos da sua casa de familia, cheios de histórias e memórias.

Sim, percebo muito mal as pessoas que ou só gostam da pastelaria ou só gostam da casa de chá. Os que só frequentam a pastelaria e são incapazes de passar por uma casa de chá. Os que se recusam a descer da casa de chá "Tia Constança" para pedir uma bica ao balcão do café do Zé Nando. Sim, bem vistas as coisas, percebo mal o mundo quase todo.

Publicado por Nuno Santos em Sinusite Crónica

4 comentários:

Rogério Charraz disse...

Grande texto, grande lição! Um dia destes afixo-o num sitio que eu cá sei, frequentado por gente que se acha muito fina, que come em restaurantes do melhor, faz viagens aos sítios mais "cool", sempre alojado em hotéis no centro da cidade, usa dois apelidos mas depois vai cagar a uma casa-de-banho colectiva e não usa ambientador e não raras vezes nem limpa a sanita como deve ser...

A CONCORRÊNCIA disse...

Podes não acreditar mas um dia saí daqui da Ardeco com um post it colado na testa. Tinha um P escrito, um pé de parva que é aquilo que me fazem sentir muitas vezes. Tenho inveja da tua coragem Rogério, sei que sou acomodada de mais...
Cola o texto no peito, pode ser que o interiorizem ...

Beijos grandes

Leticia Gabian disse...

Ah...E são tantas as doenças cronicas das sociedades!

E como gosto de mixar universos!
E como gosto de escutar outros sotaques!
E como gosto da simplicidade das pessoas e coisas e lugares!

De onde venho, costumamos dizer que quem anda de nariz empinado pisa em bosta de cachorro

Beijos grandes

Maria disse...

Olha, eu aqui nem digo nada.
Mas brevemente conto-te uma estória...