terça-feira, 6 de janeiro de 2009

As palavras

As letras são o seu início, cruzando-se, saltitando, brincando, rodopiando, até se agruparem formando as palavras. Há as mágicas, as bonitas, as carinhosas, as que nos aquecem a alma ou nos levam a sonhar, as que nos fazem sorrir, rir ou soltar maravilhosas gargalhadas, e as cruéis, as que nos chocam, as que nos magoam, as que nos fazem chorar ou que nos fazem sofrer. Algumas são meramente palavras, outras são extraordinariamente eloquentes, umas falsas, outras surpreendentemente verdadeiras. Existem as sem significado aparente, as que nada nos dizem, as que nos deixam indiferentes, aquelas com que não concordamos, e as que traduzem na integra os nossos sentimentos.

Há quem as utilize porque são bonitas, porque ficam bem se as juntarem desta ou daquela maneira, usando-as e agrupando-as como se jogassem com elas e com o seu significado. Há quem as use para exprimir exactamente o que pensam, e que por as usarem com rigor e honestidade se expõem, e se desvendam. Há quem não goste de as partilhar, há quem prefira ignorar as suas próprias palavras, há os que escolhem ouvir apenas as palavras dos outros, e há quem as guarde religiosamente e em silêncio dentro do peito.

Mas nenhum de nós conseguiria viver sem elas, porque sejam elas sentidas ou não, traduzem, significam e transmitem pensamentos, sensações, e emoções.

Hoje foram estas as palavras que encontrei para exprimir o que penso sobre as palavras, ontem foi isto que Carlos Drummond de Andrade escreveu sobre as palavras:


Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
"Trouxeste a chave?"

1 comentário:

Maria disse...

Obrigada por todas estas palavras tuas, misturadas com as de Drummond de Andrade.

Beijos