terça-feira, 29 de abril de 2008

Mais um bocadinho de mim


Imaginem uma cadela que olha cada cão com que se cruza, seja ele de que côr, raça, ou tamanho for, como um irmão, como um igual, como um animal que tem os mesmos direitos de todos os outros, porque para ela os cães nascem todos iguais, não há cães de primeira, e cães de segunda, não há cães de elite, e cães do lixo, e pensa que acima de tudo, todos devem viver as suas vidas com os mesmos direitos, e as mesmas hipóteses de sobrevivência.

Imaginem uma cadela que adora aprender, que absorve avidamente todos os ensinamentos dos outros cães que têm mais conhecimentos que ela, seja em que área for, e que abdomina o marasmo intelectual e o não acompanhamento da tecnologia na área em que trabalha.

Imaginem uma cadela que não consegue fingir, que não consegue que da sua boca saiam palavras que digam coisas com que não concorda, e que tem orgulho em ter como apanágio a sinceridade, seja qual for o preço que ela possa ter.

Imaginem essa mesma cadela presa várias horas da sua vida numa casa cor de rosa (exactamente da cor do Hospital Júlio de Matos), onde coabita com cães (por acaso são todas cadelas) que pensam que há animais de primeira (os que têm coleiras de ouro e diamantes) e animais de segunda (os que têm coleiras de lindas pedrinhas coloridas, mas sem qualquer valor monetário), e que teimam em tornar bem claro aos cães de coleiras de pedrinhas coloridas, que são inferiores, que não são iguais aos de coleiras de ouro e diamantes, e que os proibem de atravessar linhas que mesquinhamente colocam em cada canto do canil em que coabitam.

Imaginem essa mesma cadela rodeada de um marasmo intelectual de fazer enlouquecer o cão mais calmo do Mundo, rodeada de métodos de trabalho obsoletos, sem sentido, daqueles que já não se utilizam nem nos canis de bairro, e que só consegue sobreviver porque tenta avidamente aprender sozinha dentro das suas possibilidades, experimentando agora isto, apalpando aquilo, insistindo teimosamente até conseguir evoluir, mas sempre sozinha sem apoio de ninguém, e sem conseguir que entendam o porquê da sua teimosa insistência em se actualizar.

Imaginem essa mesma cadela rodeada de cães incapazes de dizer que não concordam quando não concordam, cães que ladram em uníssono sem terem as mesmas convicções , mas que teimosamente insiste em dizer não quando pensa não, mesmo que os outros cães (os das coleiras de ouro e diamantes) a olhem de lado quando não ouvem a palavra mágica a que foram habituados.

Imaginem como é gratificante para essa cadela saber que o Mundo canino não está confinado aos cães do canil cor-de-rosa, e que existem cães que partilham os seus ideais, e as suas convicções, em canis de outras cores que existem por aqui e por ali ...

6 comentários:

MisteriosaLua disse...

Não deve ser mesmo nada fácil, acredito!...
Miga, as portas do meu arco-íris estão sempre abertas!... Aparece sempre que quiseres!

Besitos

zmsantos disse...

Nãofiques de orelha murcha. Rosna-lhes quando for preciso.
Quase sempre são cobardes. Vai-te a eles!!!

A CONCORRÊNCIA disse...

Eu tenho uma táctica nova, consigo ignorá-las, torná-las invisiveis, e venho para aqui, para o nosso cantinho, falar com quem me fala de coisas que gosto de ouvir.

MisteriosaLua disse...

Confesso que, embora não tenha de ignorar ou rosnar a alguém, estou sempre pronta a vir cuscar o que se passa neste bairro! ;)

Zé dos Anzóis disse...

Amiga "Concorrência" deixa os cães a ladrar, porque a nossa caravana vai continuar a passar. Benvinda a bordo.

Anónimo disse...

Não deixes que te pisem a cauda,rosna-lhes, se não resultar tenta cagar em cima delas, se mesmo assim não der, então da-lhes
uma dentada onde deixe marca, que é para não se esquecerem.
Hoje aconcelho-te vir pela CREL.

JCorreia