Dizem que os cães são a imagem dos donos. Até agora tive quatro, todos tinham em comum a simpatia , a bondade e a entrega total por todos nós.
O primeiro, um rafeiro castanho, comprido e de patas baixas foi encontrado abandonado. Acompanhou o nascimento e o crescimento dos meus filhos durante quinze anos, com a idade foi ficando surdo, por isso foi atropelado e morreu na operação para o salvar. Dele ficaram-nos imensas memórias inesquecíveis, destaco apenas o momento em que na precisa altura em que o nosso gato Pantufa se preparava para saltar sobre uma pomba que tínhamos acolhido, o nosso Biscas estratégicamente se colocou entre os dois, para que a pombita não pudesse ser atacada.
O segundo, o Freddy, lindo, dourado de porte médio e pêlo comprido, possivelmente arraçado de cocker, foi também encontrado perdido. Um "fujão" por natureza, trepava e cortava com os dentes as redes que fomos obrigados a colocar à volta da casa. De vez em quando dava-lhe aquela vontade de encontrar uma namorada e nada que fizéssemos o impedia de fugir. Voltava sempre, demorava uma ou duas semanas e uma das vezes até um mês, quase sempre ferido, sujo, mas cheio de saudades dos donos. Era um verdadeiro doce, meigo para todos, animais ou pessoas. Morreu a dormir, tinha 16 anos.
A Bianca um labrador preto foi-me oferecida. Não sou capaz de encontrar as palavras exatas para a descrever. Uma grande companheira que nos tem acompanhado de há 9 anos a esta parte. Férias só em locais onde aceitassem cães. Adora água, e nadar é o que mais prazer lhe dá fazer, é a nossa "foquinha". A trela serve para levar na boca e quem por nós passa e a vê, exclama sempre "olha é o cão que leva os donos e não os donos que passeiam o cão". Pródiga em ser obediente é capaz de ficar sentada quieta, com a trela na boca durante horas, enquanto entramos num café, ou qualquer tipo de estabelecimento onde não seja permitido entrarem cães. Tão doce, tão amiga e tão calma a minha Bianca. Os meus últimos 9 anos de vida estão marcados pela sua companhia. Foi-lhe diagnosticado um "carcinoma maligno de alto grau de malignidade e com metastização linfática". Tem 40% de hipoteses de sobreviver. Foi operada ontem e não sabemos como vai ser a evolução da doença. Sei que como qualquer ser vivo não merece sofrer, sei que quando chegar o momento dela partir eu estarei ao lado dela, sem chorar, para que vá feliz, e o que mais gostaria de lhe oferecer nesse momento eram o cheiro e a "música" do mar.
Tenho agora a Nicky, de 9 meses, um labrador amarelo muito agitada e vivaça, meiga, simpática e muito amiga, não tem aquela adoração pela água que tem a nossa "foquinha", não passeia com a trela na boca, não se senta horas a fio imóvel à porta de um café à espera dos donos. Talvez um dia ela faça isso ou talvez não, adora-nos e isso é importante, mas acima de tudo é uma grande companhia nos momentos de solidão, e a pouco a pouco vamos descobrindo todas as facetas em que é exímia e que a fazem tão especial.