sexta-feira, 20 de abril de 2012

Poema para este fim de semana, porque desde há muito tempo sou fã do pensamento-chão.


 
 
POEMA

A maioria das doenças que as pessoas tem, são poemas presos: absessos, tumores, nódulos, pedras.
São palavras calcificadas.
São poemas sem vazão.

...
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado, prisão de ventre, poderiam um dia, ter sido poema. Mas, não. Pessoas adoecem da razão de gostar de palavra presa.

Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima. Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida, alegria endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida, pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor, tempo derretido é poema.

E você pode arrancar os poemas endurecidos do seu corpo, com buchas vegetais, óleos medicinais, com a ponta dos dedos, com as unhas, você pode arrancar poemas com alicate de cutículas, com o pente, com agulha, com pomada basilicão, com massagens e hidratação, mas não use bisturi - quase nunca.

Em caso de poemas difíceis, use a dança. A dança é uma forma de amolecer os poemas endurecidos do corpo. Uma forma de soltá-los das dobras, dos dedos dos pés, das unhas. São os poema-coccix, os poema-peito, os poema-olho, os poema-sexo, os poema-cílio.

Atualmente eu ando gostando de pensamento-chão. Pensamento-chão é poema que nasce do pé, poema de pé-no-chão. Poema de pé-no-chão é poema de gente normal, gente simples, gente de espírito santo. Eu venho do espírito santo. Eu sou do espírito santo. Eu trago a vitória do espírito santo. Santo, é o espírito capaz de operar milagres sobre si mesmo.

--Viviane Mosé*




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