O GATO
Um dia resolvemos partir, mudar de mãos e lençóis. Resolvemos mudar a vida e a cor do guardanapo para ninguém adivinhar o novo lugar à mesa.
Empacotamos os sonhos e os desejos (confundindo uns com os outros), alguns livros de cabeceira, uns chinelos e um pijama novo para o que der e vier.
O que não ficou resolvido jaz esquecido no cesto da roupa suja com um poema antigo que perdeu o sentido e um quadro que já não apetece.
Olhamos as paredes pela última vez e deixamos a porta no trinco só para atazanar os larápios com a facilidade do vazio.
Nesta altura toda a gente tem horror a despedidas. Ninguém se denuncia.
Só quando a vida que fomos se entrelaça na paisagem é que nos apercebemos que deixámos a janela aberta.
Alguns voltam atrás.
Por causa do gato.
João Monge
Empacotamos os sonhos e os desejos (confundindo uns com os outros), alguns livros de cabeceira, uns chinelos e um pijama novo para o que der e vier.
O que não ficou resolvido jaz esquecido no cesto da roupa suja com um poema antigo que perdeu o sentido e um quadro que já não apetece.
Olhamos as paredes pela última vez e deixamos a porta no trinco só para atazanar os larápios com a facilidade do vazio.
Nesta altura toda a gente tem horror a despedidas. Ninguém se denuncia.
Só quando a vida que fomos se entrelaça na paisagem é que nos apercebemos que deixámos a janela aberta.
Alguns voltam atrás.
Por causa do gato.
João Monge
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