segunda-feira, 29 de março de 2010


Viagem

Naquele tempo era o Kaos

E as palavras do poema não irrompiam já como palmeiras

Por isso abandonou a cidade - o país natal

País perdendo dia a dia o seu rosto:

A pintura a cair das paredes - cães

farejando o lixo -

Brutais os gestos - obscenas as palavras

De cada coisa a beleza destroçada

Por isso se evadiu e para Oriente

Navegou e de noite e lentamente

E um novo dia se abriu em sua frente

E era um país de tigres e palmeiras

Como em longínquo cismar adolescente.

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Ilhas", 1989

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