quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma história da minha infância


Já aqui falei de uma tia com quem sempre vivi. Uma tia separada e sem filhos que sempre me acarinhou e amou como se filha dela fosse. Olhando para trás no tempo, vários são os tios e tias que recordo com ternura. Talvez por tanto os amar fosse assim tão acarinhada por eles. Talvez porque fosse uma criança que não dava grande trabalho, nem grandes preocupações "nem sequer choras para chateares a tua avó" dizia o Tio Narciso. Recordo todos os que já foram com uma grande saudade, tão grande que muitas vezes doí de mais. Deram-me todos tanto. Os poucos que ainda continuam por cá, continuo a amá-los como os amava em criança, apesar do doloroso afastamento que as nossas complicadas vidas obrigam a que haja entre nós.

Voltando à tia com que sempre vivi, numa longínqua manhã, já quase perdida no tempo, mas que nunca consegui esquecer, ela com a melhor das intenções quis "ajudar-me". Tinha eu possivelmente uns 6 anos e um dente a abanar, dente esse que que eu teimava que haveria de cair sozinho. A tia Gicélia (a quem ultimamente alguém rebaptizou de Glicémia), no entanto, não partilhava da minha opinião. Resolveu que teria de ser ela a arrancar-me o dente da discórdia. Para solucionar o grande problema, nada melhor que correr atrás de mim por toda a casa até me apanhar, para logo em seguida me fechar no quarto. Imobilizou-me já não me lembro muito bem como, mas possivelmente com as pernas, e com uma linha numa mão tentava com a outra abrir-me a boca para me arrancar o tão importante dente. Eu gritava e esperneava, e quando finalmente depois de muito sofrimento, consegui que ela me ouvisse disse-lhe entre soluços: Tia deixa-me arrancar o dente sozinha, por favor, eu juro que o arranco, mas deixa-me ser eu a arrancá-lo sozinha. A minha tia soltou-me, e eu segui direitinha para a casa de banho, fechei a porta, e aí em frente ao espelho e sem nenhum sofrimento, arranquei o dente.

Cada um tem o seu próprio método de arrancar dentes. Sei como a minha tia gosta de mim e como me queria ajudar. E ela sabe como eu gosto dela.

1 comentário:

Maria disse...

Será que este post vem a propósito do cigarrito? Método próprio?
Huuuummmm....

Beijo