quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Levantando uma ponta do véu ...

Sérgio e Zé Mário revelam o que se vai passar em palco


Os cães ladram, mas as dezenas de camiões TIR mantêm-se estacionados no exterior dos Estúdios Nirvana, isolados num monte, perto de Barcarena, Oeiras. No calor sufocante de um dos pré-fabricados ensaiam Sérgio Godinho, José Mário Branco e sete dos 21 músicos com que no final do mês vão apresentar-se em palco no espectáculo inédito "Três Cantos". Só falta Fausto Bordalo Dias, a recuperar de uma pequena cirurgia ao olho.

"Sérgio, faz sozinho esta corda. Não faz sentido sermos os dois", atira José Mário, numa de muitas interrupções ao tema "Rosalinda". Tem sido assim desde Maio, quando decidiram avançar por fim com uma ideia que já tem sete anos: um concerto a três. "Há tardes que passamos juntos, na sala do Fausto ou do Sérgio, a apurar as notinhas, que são exaltantes, pá, de chupar os ossinhos à cordorniz", conta o músico, entusiasmado. "Deu-me muito gozo aprender - e é esta a palavra - a tocar canções de que sempre gostei." Difícil foi escolher os temas, explica. "Cada um trouxe oito canções suas, mais uma dos outros dois. Foi preciso pegar numa a uma e debater".

Levantar o véu De tanta pedra partida resulta um alinhamento mistério com mais de 30 temas: cerca de 10 de cada, um inédito assinado por José Mário Branco e por Sérgio Godinho ("Faz Parte") e uma canção "menos conhecida" de Zeca Afonso. Vai haver novas versões, reportório trocado e momentos a sós para cada intérprete. Godinho adverte: "O dossiê ainda não está fechado".

Para já, são "duas horas e tal" de concerto. "O mais importante nisto são as dinâmicas que se estabelecem", argumenta o autor de "Barca dos Amantes". "Podes aborrecer-te numa curta-metragem e estar a ver uma coisa de três horas e não dar pelo tempo a passar."

Música vs.terapia O processo criativo foi, asseguram, pacífico. Afinal, adianta Godinho, apesar das diferenças, as sensibilidades dos três são mais complementares do que antagónicas. Todos amam a língua e a música portuguesas e nenhum pensou no dinheiro que uma iniciativa como estas ia render, com dois Campos Pequenos e dois Coliseus do Porto quase esgotados e bilhetes que chegam aos €50. Parecem discordar apenas no objectivo do concerto. "Tenho a sensação quase palpável de que vai ser um balão de oxigénio para as pessoas, que andam cabisbaixas", diz José Mário. "Isto é bom, é terapêutico." A reacção de Godinho não se faz esperar: "Não, não acho nada. O nosso drive é criativo e performativo. Tudo o resto vem por acréscimo."

2 comentários:

Rogério Charraz disse...

Lindo!! Já só falta uma semana...

Curioso, o rapaz do acordeão tem um ar familiar...

A CONCORRÊNCIA disse...

Tem não tem ? parece-me é que já há algum tempo não lhe ponho a vista em cima. Será porquê ?