terça-feira, 12 de maio de 2009


A propósito da estreia do filme "Anjos e Demónios":

Li há tempos que a Opus Dei defendeu quando da estreia de "O Código de Da Vinci" que certas partes do filme de Ron Howard deveriam ser cortadas, porque poderiam dar aos espectadores uma ideia errada da Opus Dei.

Pergunto se faz sentido dizer que partes de algum filme devam, por um acto de auto-censura, ser retiradas de um filme só porque não são do agrado de um grupo de pessoas. Se fizesse sentido então tudo o que tivesse a remota possibilidade de ofender alguém não passaria o teste da auto-censura e não deveria ser dito ou publicado

Coibirmo-nos sistematicamente de criticar pessoas de quem discordamos, para não provocarmos a sua ira, é algo que cheira, na melhor das hipóteses, a hipocrisia, na pior das hipóteses, a um paternalismo altamente ofensivo. E comprar a paz com o forte risco de incorrer em suspeitas de hipocrisia e paternalismo é estar a comprar uma paz podre.

Gostaria ainda de fazer outra simples constatação. A verdade é esta: de um modo geral, é mais fácil termos respeito por pessoas acerca das quais fazemos piadas do que por pessoas em relação às quais estamos sempre de pé atrás para termos o cuidado de não as ofender. Não percebo exactamente por que razão são as coisas assim. O meu palpite é este: fazermos piadas sobre as pessoas ajuda-nos a sentir empatia por elas; ajuda-nos a sentir que são seres imperfeitos como nós, e não seres estranhos de outra galáxia.

De relevar ainda a importância da liberdade de expressão para o estabelecimento de relações entre pessoas de diferentes proveniências, crenças e meios sociais, e o facto de que se a opinião que se procura censurar for verdadeira, então censurá-la priva-nos de descobrir a verdade; e se a opinião censurada for falsa, então censurá-la priva-nos de conseguirmos fornecer uma mais consistente defesa da nossa posição.

Em suma: a censura é sempre uma coisa má, quer seja imposta superiormente, ou auto-imposta; quer seja uma censura imposta por lei ou uma censura inculcada na mente das pessoas. Como já disse, fazer por instalar um clima em que não se dêem opiniões só para evitar o risco de ofender outras pessoas nada augura de bom.


O QUE SERÁ QUE A OPUS DEI IRÁ TENTAR CENSURAR NO NOVO FILME QUE ESTREIA DIA 14, DEPOIS DE LER ISTO ?

3 comentários:

Maria disse...

Este post leva-me a pensar muito a sério em dois conceitos: de Liberdade e de Censura.
O que uma pessoa entende por liberdade pode não ser o que eu entendo por liberdade, sendo que o mesmo se aplica à censura.
Penso que tudo isto é um sinal dos tempos que vivemos.
A Liberdade que sentimos e vivemos logo a seguir ao 25 de Abril e nos anos seguintes é a Liberdade que queremos, mas não é a que temos.
Por isso digo sempre que a Liberdade se conquista todos os dias.
E é bom não pensar que, só porque já não vivemos em ditadura fascista, temos, teremos liberdade para sempre. Não, não temos. A Liberdade tem de ser diariamente conquistada!!!
E onde for preciso - nos jornais, na escrita, na música, até nos blogues. E na RUA!!! Sempre que seja preciso!

Um beijo

Leticia Gabian disse...

"Não só é extremamente cruel perseguir, nesta breve vida, aqueles que não pensam da mesma maneira que nós, como não sei se não será presunçoso demais declarar-lhes a sua maldição eterna"

Voltaire


Beijos imensos, querida
(E um abraço maior ainda...sabes bem a razão)

A CONCORRÊNCIA disse...

E contra a dita a gente grita !!!!
E mai nada !!!!!

Beijos