domingo, 19 de abril de 2009


Uma velha lenda peruana fala-nos de uma cidade onde todos eram felizes.

Todos faziam o que desejavam, e entendiam-se bem - menos o prefeito. Este vivia infeliz porque não conseguia governar nada. A prisão estava vazia, o tribunal nunca era usado, e o tabelião não dava nenhum lucro, porque a palavra valia mais que o papel.

“Falta autoridade aqui”, pensava o prefeito. E tentava, de todas as maneiras, fazer com que as pessoas obedecessem ás leis absurdas criadas pelo governo central.

Até que o prefeito teve uma ideia. Mandou vir operários de longe, que fecharam o centro da praça principal da cidadezinha com um tapume, e começaram a construir algo. Durante uma semana, ouviu-se martelos batendo, serras cortando madeira, vozes de comando dos capatazes.

No final desta semana, o prefeito convidou todos os cidadãos para a inauguração.

Na cidade onde todos eram felizes - menos o prefeito, porque não tinha como usar a sua autoridade - a multidão compareceu em massa para ver o que ia ser inaugurado na praça.

Com toda a solenidade, os tapumes foram retirados, e apareceu… uma forca. Novinha em folha, com a corda balançando ao vento, e as ferragens do alçapão bem lubrificadas.

A partir daquele momento, todo mundo que passava pela praça via a forca.

As pessoas foram ficando tristes. Começaram a perguntar o que aquela forca estava a fazer ali - e, com medo, passaram a resolver na Justiça tudo o que antes era resolvido de comum acordo. Passaram a ir ao notário, registar documentos que antes eram substituídos pela palavra. E passaram a escutar o prefeito em tudo, com medo de ferir a lei.

A lenda termina dizendo que a forca nunca foi usada. Mas bastou a sua presença para mudar tudo.

Paulo Coelho em Blogs e Colunas

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