Dormiu no meu quarto nesse dia, no banquinho junto à janela, e apesar de ter sido afastada tão pequenina da mãe e dos irmãos, nem um latido, nem um choro ouvimos. Nunca fez chichi em casa, nunca estragou um brinquedo por muito que brincasse com ele.
Aos cinco meses descobrimos a sua aptidão para nadar e ela descobriu talvez a coisa que mais prazer lhe dava fazer. Nadar e passear eram as coisas que a faziam mais feliz. Com a minha filha rapidamente aprendeu na escola de cães tudo o que um cão supostamente bem educado deve fazer.
Ficar sozinha no carro ou à porta de qualquer estabelecimento onde não era permitida a entrada de cães, o tempo que fosse preciso não eram quaisquer problemas para ela. Uma companheira sempre presente em todos os momentos da nossa vida, nas férias, nas miniférias, do Algarve à Serra da Estrela sempre nos acompanhou. Sabíamos lá nós passear sem ela, podia lá ela ficar sem a nossa companhia nem que fosse apenas por um fim de semana. De trela vermelha na boca seguia ao nosso lado em todos os passeios, e assim entrou na sala de operações todas as vezes que foi operada.
Devia ter vivido mais tempo, mas diz a sabedoria popular que são os bons que partem mais cedo. Como nos vai ser difícil viver sem ela, sem os seus olhos doces, sem as suas lambidelas de carinho.
Perdida e vazia é como me sinto neste momento. Apoderou-se de mim um enorme desalento, foram-se as forças para enfrentar o futuro. Será que é verdadeira a teoria de que quando nos vamos desta vida atravessamos um túnel no final do qual existe uma luz maravilhosa ? Se assim for com toda a certeza será aí que voltarei a encontrar a minha Bianca. Até lá terei de viver com esta enorme saudade.