Será que terei de começar a acreditar que têm razão aqueles que carinhosamente me perguntam: " tu és deste planeta ?"
O vento sopra fazendo aquele uivo que me deixa insegura. Olho pela janela e penso 140 Km hora? quantas árvores serão arrancadas hoje? quantas pessoas ficarão hoje afectadas por mais esta "partidinha" que ultimamente o "tempo" teima em nos pegar? e aquela telha que bate assustaduramente lá encima, será que se aguenta até o vento passar ? a luz vai e vem de cinco em cinco minutos, e de repente eis que se faz luz na minha massa encefálica: será que o cantautor é também um visionário ?
Seria uma previsão do futuro esta frase na canção :
"CÔTAS NA AGRICULTURA " (já para não falar no "défice cravado na cintura" )
Hoje deixo-vos com "Quatro caminhos" que poderão percorrer logo mais, e entrarem no fim de semana que se aproxima, em grande ...
No Centro Cultural Olga Cadaval um espectáculo que me parece muiiiiiiiiiito interessante (não fosse eu uma fã de blues):
Roland Tchakounté é a prova viva de que o Blues não conhece fronteiras. Nascido nos Camarões, longe dos campos de algodão que refinaram o estilo dos seus ancestrais, começou a sua aprendizagem musical pela percussão e pela guitarra. De seguida, dedicou-se ao piano a à harmónica. Roland Tchakounté conseguiu criar uma síntese perfeita entre as suas raízes Africanas e o Blues, interpretando com singularidade um repertório de grande qualidade. O seu álbum Waka, lançado em Fevereiro de 2008, ficou marcado por um concerto (esgotado) no New Morning, em Paris. Desde então, viajou pelo mundo e marcou presença na Bélgica, Canadá, Indonésia, Vietname, Malásia, Lituânia, Croácia, África (Burkina Faso, Mali), mas também em Cognac, Vaison la Romaine e outras cidades francesas. Roland Tchakounté descreve a sua música como "selvagem melodia", utilizada para abordar sentimentos, muitas vezes tristes ou felizes, mas também para expressar o estado de abandono em que mergulhou o continente Africano. Ele não esconde a sua admiração por artistas como Sun House, Robert Johnson, Edmore James, Muddy Waters, John Lee Hooker e Ali Farka Touré, que respeita como seus verdadeiros mestres. Utópico assumido, o seu desejo é o de tornar a espécie humana numa única grande família, sem distinções de raça ou cor.
Preço: 10,00 euros
No Restaurante o Bispo no Seixal um Tributo a Zeca Afonso com as participações especialissimas de Jorge Jordan, Luis Pires, Pedro Branco e Vitor Sarmento, nomes que nos garantem uma noite com toda a certeza "especialissima".
E finalmente "the last but not the least" :
Fábrica do Braço de Prata 26 de Fevereiro 2010 6ª feira entrada 8 euros Jazz Júlio Resende e convidados 22H00 - Sala Nietzsche Música Miguel Sousa (piano solo) 22H00 - Sala Eduardo Prado Coelho Música Roda de Choro de Lisboa(chorinho) 22H00 - Sala Visconti Música Rogério Charraz - Canções da Resistência 24H00 - Sala Eduardo Prado Coelho Música Marta Plantier 23H00 - Sala Wittgenstein Música Ernesto Rodrigues 23H00 - Sala Nietzsche Música Porto-Brasil (quarteto de musica instrumental luso-brasileira). Lançamento do álbum "Sem Fronteiras" 24H00 - Sala Nietzsche Stand Up Leandro Morgado Stand Up Comedy 24H00 - Sala Wittgenstein
Falta o quarto ? há sempre um caminho que só nos conhecemos e com que cada um se identifica, e esse deixo-o em aberto ...
Quatro caminhos, é o novo disco de Ana Laíns, um disco que conta com o apoio da Antena 1, e que estará finalmente à venda nos pontos habituais no próximo dia 1 de Março.
Ana Laíns define o seu novo álbum "Quatro Caminhos" como "um reflexo da música tradicional e do fado". Editado pela Difference, inclui originais de Amélia Muge, Samuel Lopes, Ângelo Freire, e Diogo Clemente, que volta a ser o produtor, e poemas de Carlos Drummond de Andrade, Natália Correia e Ruben Dario.
Para quem não conhece ainda Ana Lains deixo-vos um "cheirinho" do anterior album.
"Quatro caminhos" parece-me um disco obrigatório para quem gosta de boa música portuguesa.
Parabéns Ana por mais este excelente trabalho.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Hoje apetece-me falar das palavras. De como podem ser belas, ou feias, doces ou cruéis, frágeis ou fortes. Do significado que têm para ti, tão diferente ou tão igual ao significado que podem ter para mim. Das imagens e dos sentimentos que carregam. Da mensagem que quer transmitir quem as diz ou escreve e da mensagem entendida por quem as ouve ou lê. Hoje apeteceu-me falar-vos da magia das palavras.
São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam: barcos ou beijos, as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
O Carnaval do Arlequim, de Joan Miró
Somos um país dado a festividades populares, algumas de origem pagã. Morreram já umas, mas renasceram outras, de cariz político, com sinos, guizos e pandeiretas sofisticados, ensurdecedores mesmo, que amplificam a demagogia e a mistificação da realidade e se tornaram caricatura de todos os traumas nacionais. Este carnaval acampou na política e nos meios de comunicação. Cada um toca com mais força que o outro, o som da mentira é a banalização do mal, ninguém se respeita, a bandalheira é medalha de notoriedade.
Ciclicamente, parece que foi sempre assim. Vai-se à Campanha alegre do Eça e lá está o século XIX transposto para os dias de hoje: «O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos».
De passadas tristezas, desenganos amarguras colhidas em trinta anos, de velhas ilusões, de pequenas traições que achei no meu caminho..., de cada injusto mal, de cada espinho que me deixou no peito a nódoa escura
duma nova amargura... De cada crueldade que pôs de luto a minha mocidade... De cada injusta pena que um dia envenenou e ainda envenena a minha alma que foi tranquila e forte... De cada morte que anda a viver comigo, a minha vida, de cada cicatriz, eu fiz nem tristeza, nem dor, nem nostalgia mas heróica alegria.
Alegria sem causa, alegria animal que nenhum mal pode vencer. Doido prazer de respirar! Volúpia de encontrar a terra honesta sob os pés descalços.
Prazer de abandonar os gestos falsos, prazer de regressar, de respirar honestamente e sem caprichos, como as ervas e os bichos. Alegria voluptuosa de trincar frutos e de cheirar rosas.
Alegria brutal e primitiva de estar viva, feliz ou infeliz mas bem presa à raíz.
Volúpia de sentir na minha mão, a côdea do meu pão. Volúpia de sentir-me ágil e forte e de saber enfim que só a morte é triste e sem remédio. Prazer de renegar e de destruir o tédio,
Esse estranho cilício, e de entregar-me à vida como a um vício.
Alegria! Alegria! Volúpia de sentir-me em cada dia mais cansada, mais triste, mais dorida mas cada vez mais agarrada à Vida!
"Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma gargalhada!"
Daniela Mercury – “Swing da cor” (1991) Com Daniela Mercury, o axé deixou de ser música exclusiva do carnaval da Bahia e passou a dominar as rádios do país, ao lado do sertanejo e do pagode. Por outro lado, Hagamenon explica que “Daniela, ao lado de Margareth Menezes, sofisticou o axé, deu toques de MPB e criou até uma carreira internacional”.
"A Cultura é uma necessidade básica. Sem Cultura não pode avançar uma Sociedade que se quer digna desse nome."
"Um País assenta fundamentalmente na cultura que o enforma. Ela é a sua alma."
Todos nós sabemos que é muito mais fácil "vingar" no Mundo da música em Portugal através do .... como direi ? "popularucho" ? Há no entanto quem continue a teimosamente não seguir pelo caminho mais fácil, quem heroicamente continue a insistir na música de qualidade, a lutar pela dignificação da cultura portuguesa.
Apresento-vos este novo projecto, de grande qualidade, de alguém que sempre apostou, e pelo que conheço dele sempre continuará a apostar, na nossa cultura .
A voz, falada e cantada, acompanhada pela guitarra e pelo piano. A poesia e a canção cruzam-se de várias formas, homenageando poetas e compositores da Lusofonia.
"Pode a palavra ecoar nos silêncios? Ser o próprio silêncio ou mesmo dançar na rouquidão de uma voz que tem os movimentos de ...um corpo poeta ou até de mar? Pode a palavra pintar-se a si própria e ser cristalina como uma lágrima de amor ou até uma fonte? Podem os Homens inventar-se em novos perfumes de inquietação e saudade? Palavras em canto. Palavras em cantadas que nos fecham os olhos e nos transportam até dentro de nós! Um espectáculo de poesia e música portuguesa. Para ficar a bater-nos no peito como um toque de coração. Para ficar a brilhar-nos nos olhos como o reflexo do nosso sol. Para ficar na memória para sempre…"
Texto de apresentação do espectáculo, da autoria de Pedro Branco
Porque também sou mãe sei o que sentes hoje. Porque sou tua amiga e te sei FELIZ, estou feliz também. Porque hoje é o teu dia e o dia de Gabriel, resolvi voltar a trazer aqui um video que fiz no dia 28 de Janeiro de 2009. Porque sendo filho de quem é só pode ser "boa onda" tenho a certeza que me apetecerá mais dias menos dia fazer um para o Gabriel (assim que tiver matéria prima para isso). Bem-vindo Gabriel. Beijos e até já.
P.S. Como tive de ir buscar o video ao post anterior, os comentários que lá estavam vieram atrás. Como é lógico mantive-os. São as minhas dificuldades técnicas .
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
“Looking-out" de Paula Rego
Poema Cansado de Certos Momentos
Foi-se tudo como areia fina escoada pelos dedos. Mãe! aqui me tens, metade de mim, sem saber que metade me pertence. Aqui me tens, de gestos saqueados, onde resta a saudade de ti e do teu mundo de medos. Meus braços, vê-os, estão gastos de pedir luz e de roubar distâncias. Meus braços cruzados em cruz de calvário dos meus degredos. Ai que isto de correr pela vida, dissipando a riqueza que me deste, de levar em cada beijo a pureza que pariste e embalaste, ai, mãe, só um louco ou um Messias estendendo a face de justo
para os homens cuspirem o fel das veias, só um louco, ou um poeta ou um Cristo poderá beijar as rosas que os espinhos sangram e, embora rasgado, beber o perfume e continuar cantando. Mãe! tu nunca previste as geadas e os bichos roendo os campos adubados e o vizinho largando a fúria dos rebanhos pela flor menina dos meus prados. E assim, geraste-me despido como as ervas, e não olhaste os pegos nem as cobras, verdes, viscosas, espreitando dos nichos. De mão nua, entregaste-me ao destino. Os anjos ficaram lá em cima, cobardes, ansiosos. E sem elmos ou gibões, nem lutei nem vivi: fiquei quieto, absorto, em lágrimas — e lá ao fundo esperavam-me valados e chacais rancorosos.
Mãe! aqui me tens, restos de mim. Guarda-me contigo agora, que és tu a minha justiça e o exílio do perdido e do achado. Guarda-me contigo agora e adormece-me as feridas com as guitarras do fado.
Mas caberá no teu regaço o fantasma do perdido?
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Eu quero ser sempre aquilo Com quem eu simpatizo E eu torno-me sempre Mais cedo ou mais tarde Aquilo com quem eu simpatizo E eu simpatizo com tudo São simpáticos os homens superiores Porque são superiores E são simpáticos os homens inferiores Porque são superiores também Porque ser inferior é diferente de ser superior E isso é uma superioridade A certos momentos de visão Eu simpatizo com alguns homens Pelas suas qualidades de carácter Com outros eu simpatizo Pela falta dessas mesmas qualidades E com outros ainda eu simpatizo por simpatizar com eles Como eu sou rei Absoluto na minha simpatia Basta que ela exista Para que tenha razão de ser.