Claro que quando sinto que já chega, que está na hora, que basta, também sei por pontos finais. Talvez por esperar tempo de mais, muitas vezes esses pontos finais acabam por ser parágrafos. Possivelmente se fosse semeando virgulas, e pontos de exclamação, não existisse necessidade de utilizar pontos finais parágrafos radicais.
Além de parva e teimosa, sou ainda uma outra coisa: ingénua. Ora esta faceta do meu eu já me aborrece um pouco mais, ou para ser franca, chateia-me para caramba. Acredito nas pessoas pronto, que hei-de eu fazer? Se dermos como certo aquele antiquíssimo provérbio que diz que quem não confia não é de confiar, esta treta da minha ingenuidade até me é abonatória, mas a realidade é bem outra. É que se há coisa que me chateie como o caraças, é descobrir que fui enganada porque ingenuamente acreditei em tudo e todos.
Continuando esta minha auto-psicanálise, gostaria só de acrescentar outro aspecto da minha personalidade: a minha relação com o dinheiro. É que o vil metal, ou vil papel, ou o que lhe quiserem chamar, é coisa que não tem grande importância para mim. Não estou a querer com isto dizer que não sou materialista. Claro que gosto de ter o que considero mínimo para viver. Um automóvel cujo motor funcione sempre que rode a chave na ignição e se possível que não me deixe ficar apeada, roupa que ao olhar para o espelho depois de a vestir não me veja obrigada a fechar os olhos, e uma casa onde me rodeie de algumas coisas que me façam sentir bem. Não me seduzem o luxo, as marcas ou os estatutos sociais.
Não tenho portanto inveja daqueles de quem se costuma dizer que "estão muito bem na vida" , e posso acrescentar até que me deixa feliz saber que alguém conseguiu esse feito, desde que se tenha mantido igual a si próprio sem alterar princípios e valores.
Passo a explicar-vos o porquê deste extenso palavreado. É que hoje (ajudada pela informação que me chegou através da comunicação social deste meu país) cheguei a uma muito perturbante interrogação: será que alguém consegue enriquecer apenas com o seu trabalho? Será que todos os ricos (ricos pelo aspecto monetário, claro) ou são desonestos ou corruptos ?
Esta parvoíce que é parte integrante de mim, como fiz questão de vos contar, impele-me a não desistir de acreditar. Insisto em ingenuamente e teimosamente, manter dentro de mim a esperança, de que existem ainda alguns por aí, que fazem questão de se manterem honestos e íntegros. Ou será que de uma maneira ou de outra, todos nós somos vendáveis, e é apenas uma questão de acertar no nosso preço ?