quarta-feira, 25 de abril de 2012




O segredo está na pureza, na entrega absoluta, no amor incondicional.
São estas as principais diferenças entre os homens e os animais.
Os animais são fiéis e reconhecidos  e fazem questão de o demonstrar.
Não precisam de luxo para serem felizes, basta-lhes amor e alimento.
Sempre os admirei, mas a minha admiração aumenta proporcionalmente ao conhecimento sobre o ser humano.
Prefiro  os animais a muitas (imensas) pessoas e nos tempos que correm cada vez mais.
Partilho e sempre partilhei com eles a sua filosofia de vida e os seus princípios inabaláveis.
Talvez um dia decida cortar todos os laços que me prendem aos homens e me dedique apenas aos animais.
Talvez seja esse o meu caminho para a  felicidade.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Poema para este fim de semana, porque desde há muito tempo sou fã do pensamento-chão.


 
 
POEMA

A maioria das doenças que as pessoas tem, são poemas presos: absessos, tumores, nódulos, pedras.
São palavras calcificadas.
São poemas sem vazão.

...
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado, prisão de ventre, poderiam um dia, ter sido poema. Mas, não. Pessoas adoecem da razão de gostar de palavra presa.

Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima. Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida, alegria endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida, pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor, tempo derretido é poema.

E você pode arrancar os poemas endurecidos do seu corpo, com buchas vegetais, óleos medicinais, com a ponta dos dedos, com as unhas, você pode arrancar poemas com alicate de cutículas, com o pente, com agulha, com pomada basilicão, com massagens e hidratação, mas não use bisturi - quase nunca.

Em caso de poemas difíceis, use a dança. A dança é uma forma de amolecer os poemas endurecidos do corpo. Uma forma de soltá-los das dobras, dos dedos dos pés, das unhas. São os poema-coccix, os poema-peito, os poema-olho, os poema-sexo, os poema-cílio.

Atualmente eu ando gostando de pensamento-chão. Pensamento-chão é poema que nasce do pé, poema de pé-no-chão. Poema de pé-no-chão é poema de gente normal, gente simples, gente de espírito santo. Eu venho do espírito santo. Eu sou do espírito santo. Eu trago a vitória do espírito santo. Santo, é o espírito capaz de operar milagres sobre si mesmo.

--Viviane Mosé*




quinta-feira, 19 de abril de 2012


                            José Gomes Ferreira

O Nosso Mundo é Este

O nosso mundo é este
Vil suado
Dos dedos dos homens
Sujos de morte.

Um mundo forrado
De pele de mãos
Com pedras roídas
das nossas sombras.

Um mundo lodoso
Do suor dos outros
E sangue nos ecos
Colado aos passos…

Um mundo tocado
Dos nossos olhos
A chorarem musgo
De lágrimas podres…

Um mundo de cárceres
Com grades de súplica
E o vento a soprar
Nos muros de gritos.

Um mundo de látegos
E vielas negras
Com braços de fome
A saírem das pedras…

O nosso mundo é este
Suado de morte
E não o das árvores
Floridas de música
A ignorarem
Que vão morrer.

E se soubessem, dariam flor?

Pois os homens sabem
E cantam e cantam
Com morte e suor.

O nosso mundo é este….

( Mas há-de ser outro.)

É preciso acreditar, e acima de tudo é urgente lutar para que não sejam utópicas as palavras do poeta .

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Óleo de Paula Rêgo


"Tem mê" dizia ela ainda muito pequenina quando alguma coisa a assustava. Lembrava-se com grande clareza, e apesar dessas palavras serem balbuciadas numa idade de que geralmente temos pouca consciência,  do medo que sentia quando as dizia. Cresceu sempre lutando contra os medos que a vida lhe foi oferecendo.

Mark Twain escreveu um dia : a coragem é a resistência ao medo, o domínio do medo, e não a ausência do medo.

Jean-Paul Sartre disse: Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem.

Nunca quis que lhe chamassem ou a considerassem corajosa. A opinião dos outros sobre esta matéria pouco lhe interessava e além disso nunca contara a ninguém desse sentimento que raramente a abandonava. Ambicionava somente não sentir o medo apertando o seu peito e nunca desistiu de lutar para exorcizar o medo que  vivia dentro dela.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

E de novo Portugal suicidado !!!



As portas que Abril abriu
José Carlos Ary dos Santos
...
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.


Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
...
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
...
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

Como esquecemos nós a força do nosso grito, como permitimos nós cerrar as portas que Abril  abriu?!?

quarta-feira, 4 de abril de 2012



Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente.