segunda-feira, 5 de julho de 2010


A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO

Quando já nada nos resta mas ainda assim sabemos
que estamos vivos de esperança mesmo quando derrotados
desdobramo-nos em forças de um cego instinto que temos
vamos à besta de frente e lutamos cegamente a recusar ser domados

Quando o fantasma da morte nos mergulha no olhar
nascem asas de coragem para confessar as verdades
caem por terra segredos que já não são de ocultar
e partilhamos sensíveis, mesmo quando são terríveis amorosas crueldades

A poesia para o pobre é poesia necessária como o pão de cada dia
como o ar que respiramos treze vezes por minuto
com pulmões desidratados e na voz a asfixia
de gritar por liberdade e mesmo antes da idade ser negro do nosso luto

Porque vivemos aos tombos e tropeçamos nos ossos
dos oprimidos do mundo
os poemas que gritamos não podem ficar só nossos
ou vamos bater no fundo… ou vamos bater no fundo!

Amaldiçoo a poesia concebida como um luxo cultural de parasitas
que lavam as mãos de tudo, corrompidos de vileza
Amaldiçoo a poesia dos falsos iluminados a parir coisas malditas
enquanto nos vão sugando e pouco a pouco engordando, a apodrecer de riqueza

É para os fracos que canto e em cada verso que invento
faço arma da poesia e grito ao meu próprio jeito
o sopro de um novo alento
e este sopro alimenta a poesia-ferramenta que agora te aponto ao peito

Não são versos bem medidos nem o poema obra-prima
são palavras de revolta por tudo nos ser tão duro
Pega nelas, segue em frente, faz a tua própria rima
mas meu irmão, fá-la já, com a arma aqui está, carregada de futuro

Porque vivemos aos tombos e tropeçamos nos ossos
dos oprimidos do mundo
os poemas que gritamos não podem ficar só nossos
ou vamos bater no fundo… ou vamos bater no fundo!

Gabriel Celaya
poema imortalizado pela voz de Paco Ibanez livremente traduzido para português por Pedro Laranjeira





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